quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ora pedras, ora beijos

Não, não te quero ouvir, as tuas razões, o que sentes, o que finjes sentir, o que sabes, o que gritas, como foi o teu dia, que vitoriazinha alcançaste hoje, o que finjes saber, o que és, o que estás aqui a fazer. Não quero ouvir.
Nem quero ver essa cara de quem não percebe o que se está aqui a passar, o que me deu, porque raio estou aqui aos gritos, logo eu, que ainda ontem te atirava beijos sem aviso, despropositados, sem sentido, mal te tocando. Não quero ver.
Não quero que perguntes a razão por que te sou uma pessoa diferente todos os dias- sorrisos a semana passada, lágrimas este sábado, língua infantilmente deitada de fora no domingo, festinhas há dois dias, beijinhos sem nexo ontem, gritos e pedras hoje. Não quero ver.
Pelo amor de Deus, esconde-me esse azul, esconde essas mãos que não sabiam largar-me o corpo quando todos os dias eram dias de beijinhos e papas de leite, cala-me essa voz que, desafinada, me cantava ao ouvido, larga-me a mão, não me faças festinhas no rosto e nem te atrevas a tentar mostrar-me a que sabe o teu hálito hoje. Pelo amor de Deus, esconde-me esse azul!
Pára de dizer baixinho que não estás a perceber nada disto- estou a ouvir-te e estás a irritar-me! Pára de andar de um lado para o outro, mãos na cabeça, acenos negativos, olhar errante. Pára!
Espera, esquece o que eu disse, não escondas o azul, vem aqui se fazes o favor, encosta-me contra a parede, cala-me com beijos, rasga-me a roupa, tem-me aqui mesmo- contra a parede, no chão, em cima daquela mesa e, se a loucura não nos faltar, naquela cama. Faz-me tua de uma vez.
O que é que foi agora? Custa tanto assim perceber que as pedras que te lanço levam beijos, que só não te quero ver à minha frente porque apenas de olhos fechados sei beijar, que te quero, que, se calhar, vê lá tu, até te amo, que te odeio, te odeio, te odeio?
Como é que não percebes, ora pedras, ora beijos, ora pedras mais uma vez?
Vem cá. tens ao menos noção do que acabei de despejar nas tuas mãos? É o meu coração, meu grande estúpido!
Leva-o para casa, olha-o, disseca-o, abre-o de todas as maneiras que souberes, vê a merda em que o deixaste quando foste embora, cose-o, volta a pô-lo como estava, mostra-o à vizinha, ao professor de anatomia, à tua próxima conquista- pendura-o à entrada da cidade.
Faz-lhe o que quiseres mas, por favor, olha-o e vê a merda em que o deixaste.
Agora vê lá, livra-te de fazer como com tudo o resto que te emprestei e que agora se amontoa em tua casa- isso tem de voltar, mal ou bem, tem de voltar.
É o meu músculo vermelho, embora reduzido à merda em que o deixaste, é meu, faz-me falta.

8 comentários:

Anônimo disse...

em primeiro lugar, estás desculpada pela invasão e obrigada ;)
em segundo lugar, ainda bem que o fizeste, pois o que escreves inspirou-me imenso ;) ora pedras, ora beijos, ora histórias contadas de uma vez, ora valsas de monstros.

gostei também *

Sara Veiga disse...

Afirmo e reafirmo: brilhante.
Captaste com muita precisão coisas que por vezes achamos que não se traduzem em palavras.

Beijos mil.

José Alexandre Ramos disse...

xiça! quem foi que disse que não percebia nada de escrever? Ah!, foi o Gabo... ;-) Um grande beijo.

SA. disse...

nenúfar, obrigada^^

maracujá, estragas-me com mimos

josé, prometo que esta foi uma vez sem exemplo =D

Luisa Oliveira disse...

(Depois pede-me para te explicar esta piada:)
Ora aqui está a solução, mais um blog!

"Ora pedras, ora beijos". Subescrevo a Maracujá ^^

SA. disse...

luisa, acho que percebi... obrigada^^

Joana disse...

quando comecei a ler, fiz ctrl+c para colocar aqui a frase que me tocou mais. e cliquei de novo e outra vez e uma vez mais. não consigo. desculpa, mas não dá. senti tanto este texto como se o coração fosse o meu.


obrigado por escreveres estas coisas. só te peço que escrevas mais assim.


(ainda estou aparvalhada)


p.s. aninha, não podes falar muito. postas mais no teu blog que eu ^^

SA. disse...

joana, obrigada por comentários assim^^